"Mãe, você está louca! Eu não vou fazer magistério! Não quero ser professora! Não quero ser igual a você... Dar aulas? Jamais!!!" Assim passei repetindo essas frases, como espécie de um mantra, durante minha adolescência... Ela, professora extremamente competente e mãe totalmente preocupada com a vida profissional de sua filha. Eu, uma adolescente despreocupada e sonhadora, ansiando pela carreira de atriz ou qualquer outra, menos a tão famigerada de minha progenitora. E assim passaram-se os anos de meus estudos - muito doloridos e reveladores - mas eles acabaram e...? E agora, José? O que fazer? O que prestar? O que serei eu??? O teatro já tornara-se algo inatingível, eu não estava disposta a abdicar de certos confortos e momentos por ele... Resolvi então prestar vestibular para Serviço Social. Que lindo! Serei uma daquelas moças que ajudam aos outros... Ainda bem que não consegui dar continuidade a esses estudos. Hoje eu seria uma péssima assistente social, aliás acredito que nem mesmo tornar-me-ia uma delas... Meu lado sentimental não me permitiria exercer esta carreira...Medicina? Engenharia? Advocacia? Não... Fui ser secretária... Adorei... Mas não me apaixonei... E o teatro continuava uma de minhas possíveis escolhas... tentarei ser atriz de verdade...sairei do teatro amador e vou a São Paulo buscar meu sonho.
Mas, por um golpe do destino, ou melhor um galope dele, surgiu a oportunidade de trabalho que me interessou: dar aulas de teatro... Quando isso surgiu na minha vida eu não lembrei-me daquelas falas da adolescência, eu me animei... Achei que serprofessora de teatro não era a igual ao que minha mãe fazia... E fui...Bom... Era igual sim. Ser professor é ser professor seja a disciplina que for... Então, acredito eu que descobri minha verdadeira profissão: professor!
Hoje eu não me vejo fazendo outra coisa. Em momentos desesperadores - em que os alunos tornam-se seres abomináveis - e você pensa que precisa largar essa profissão, que não aguenta mais... Penso novemente que essa é a minha profissão e que eu devo exercê-la da melhor maneira possível. E que se eu for uma advogada ou médica terão outras situações abomináveis assim com as que tenho...
Ser professor é a maior profissão do mundo. Tenho certeza. Certeza por aqueles que a exercem com amor. De verdade. Que não enganam. Que refletem. Que sonham. que ensinam. E que sentem-se responsáveis por cada coração que pulsa em sua aula.. Esses sim são os maiores... Encaro minha profissão com muito respeito e por isso a amo. Amo porque sei da minha responsabilidade. Pena que nem todos que a exercem a vejam assim. Do mesmo modo que a Fernanda MOntenegro falou que o dia em que ela parar de sentir frio na barriga ao entrar no palco, a sua profissão acabou. A minha também. O dia em que eu não sentir mais essa ansiedade, esse esfriar do corpo e o coração pulsar: acabou!