Assim que seus olhos se abriram, suas mãos começaram a suar, um tremor invadiu suas pernas e tomou de assombro o seu coração. Há quanto tempo estava dormindo? Olhou no relógio, certificou-se que estava em sua casa, deitou-se novamente e ao fechar de seus olhos aquela estranha e insistente sensação retornara ao seu corpo. Percebeu que não poderia dormir novamente e muito menos voltar para aquele sonho que a trouxe de volta à vida. Sim, como pode um sonho ser capaz de despertar sensações e sentimentos há tempos adormecidos? "Acho que estou ficando louca", foi assim que desculpou-se por sentir-se tão viva em sua rotina rotineira e tão previsível. Como de costume, foi para o banho e lá ainda pôde de alguma forma saborear o sonho tão instigante que tivera.
Saiu e sentiu que precisava de mais tempo para chegar ao trabalho, já que queria poder desfrutar das imagens tão vivas que pipocavam e a acompanhavam desde que acordara. Parou no ponto de ônibus e esperou, sabe-se lá por quanto tempo ficou ali parada, ali calada, ali apaixonada. Sim, apaixonada por alguém que sequer sabia de sua existência. Assim ela pensava.
Atrasou-se, mas rejuvenesceu naquele caminho que fez. Ainda absorvida pelo que sonhara não suou frio ao ser recepcionada por seu chefe rispidamente. Foi para sua mesa, mas quis o destino ou o seu subconsciente que ela mudasse sua rota, quando viu estava no meio da sala de criação, onde ele, o criador de sua nova vida gesticulava com enorme paixão. Ouviu chamar seu nome e só ele tinha aquele timbre de voz. Sorriu e ele também. "No meio de tanta gente eu encontrei você", trilha sonora para seu contato visual... "Nossa! De onde saiu essa música?", a sua sonoplastia fora interrompida pelo convite "Vamos tomar uma cervejinha hoje?", "Nós?", "Sim, nós!". Corou-se e respondeu que sim, rapidamente voltou para a realidade de seu trabalho e entendeu que o "nós" era pra todos e não para eles dois. Mas animou-se, quem sabe?
Passou o dia todo pensando que deveria ter colocado uma roupa mais descolada, mais surpreendente, lembrou-se que não estava depilada, que sua sobrancelha estava horrorosa e olhou para suas mãos com o esmalte descascado. Era o fim! Ou melhor era a tragédia anunciada. Deu um jeito e saiu mais cedo. Foi ao shopping e deu um jeitinho em seu visual. Sentiu-se bem, sentiu-se viva, lembrou do sonho, ouviu a voz dele ecoando em seu corpo, arrepiou-se e amou-se!
Com certeza ninguém esperava que ela aparecesse tão diferente no happy hour, aliás felicidade era o que estava sentindo, tinha a certeza de que poderia concretizar o que seu subconsciente viveu. Novamente quis o destino que ela sentasse ao lado dele. A energia daquele homem era hipnotizadora e passou um tempo absorta em apenas olhá-lo. As cervejas foram deixando-na mais à vontade e alguns toques casuais ocorreram entre eles até que ela de lá levantou-se para no banheiro recuperar seu fôlego.
O tempo passou naquela mesa e ela cada vez mais encantava-se por ele. A voz dele reacendia cada vez mais seus desejos adormecidos. Os olhos tão vivos e tão misteriosos a seduziam cada vez mais. Iniciaram uma conversa mais íntima e mais animada. Ficaram só os dois, duas almas cheias de desejos similares, duas mentes compactuando cada vez mais os mesmos ideais.
"Disse sim, vou com você para sua casa!". Saíram e se perderam entre desejos, beijos e promessas. O dia raiou, mas ele não era o mesmo da noite anterior. Sério, calado, parecia até arrependido, monossilábico. "Não posso chegar com a mesma roupa de ontem no trabalho", "E eu não posso chegar com você". Mais nada falaram. Não se despediram. Se desligaram. Nunca mais se conectaram. Ela não chorou e muito menos se arrependeu. O tempo é de amores fugazes, vida editada para ser "feliz" no facebook. É isso, curtiram, compartilharam e desfizeram a amizade num clique... Simples assim...
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