terça-feira, 31 de março de 2009

Quando viu aquele sorriso, aqueles olhos repletos de mistério, teve certeza de que descobrira um outro pedaço de seu ser... Seria aquele melodioso olhar uma simples ilusão? Aqueles olhos escondiam qual mistério? Misterioso era ele ou ela?
Nada tinha de inovador ou inusitado em sua vidinha medíocre de dona de casa, mãe de dois filhos, casada com o mesmo homem que sorriu para ela cerca de 20 anos atrás... O nome? Simples demais: Clara. Clara como o lírio, como o sol, como a luz... Mas naquele dia a alvura de sua vida transfigurou-se para um iluminado quadro de pop art, repleto de interferências e críticas.
O que tinham aqueles olhos que transportavam Clara para esse colorido de sentimentos? Amarela. A blusa dele era amarela, mas nada iluminava mais que o seu olhar e seu sorriso. Através dos olhos dele ela reconhecia o quão misteriosa ainda era a sua vida e seus sentimentos. Ao ver aqueles garços olhos, destrancou o porão de seu peito e de dentro dele saíram alguns tesouros, porém um, apenas um foi capaz de transformá-la: O AMOR...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Minha carne é de carnaval, meu coração é igual...

Sente o coração pulsar mais forte. A leitura daquele texto é como um rasgar de bala em seu peito. Emociona-se. Sente algo diferente em seu corpo... Não sabe ao certo o que aquilo representa... A música que ouvia começa a ter mais sentido, mais som. Colore-se o quarto. Brilha o sol e seus passos invandem o chão riscado de lágrimas que brotaram, antes daquela leitura. Como tudo pode mudar tão rápido? Um simples dizer impulsiona seu peito de novo a bater. A tremer. A querer. Dança. Entrega-se a um ritmo tão conhecido seu: o samba. Samba, samba o swing do Campo Grande. Sua carne e seu coração definitivamente são de carnaval: intensos, festivos e muito vibrantes. Esquece que existem as cinzas... Quer somente o carnaval para encontrar-se com o folião que roubou seu coração...Sua carne e coração também são de carnaval?
Ando me encontrando com canções antigas, muitas delas nem mesmo fizeram parte da minha adolescência, por exemplo, "Bichos Escrotos" (ótima para se ouvir de manhã, quando se está indo trabalhar, pois alivia e anima ao mesmo tempo), "Inútil", "Vital e sua moto", "Igreja" entre outras tantas que marcaram e comandaram a moçada da década de 1980... Eu sou um pouco depois disso... A minha fase adolescente "rock´n roll, rebelde e sonhadora" rolou na década de 1990. Dez anos depois do estrondoso sucesso da galera "anos 80", dos ultrajantes a rigor, dos enormes titãs, celebrados paralalamas, repletos de ira em suas canções... Ao ouvir bandas e o rock dessa época, ou até mesmo as pegadas de Nirvana, Red Hot e Guns, sinto que ainda tenho um ar de rebeldia, de querer ainda dizer e viver a vida com a mesma intensidade dessa batida acelerada, um pouco estranha e muito viceral... Acreditava que jovens deveriam gostar de rock, porque esse som representava a transgressão... A mudança, o diferente... Mas hoje, ao olhar meus alunos ouvindo e se deliciando com os sertanejos, que desculpem-me mas parecem pragas, pois proliferam mais que novos silicones entre as famosas, sinto uma tristeza profunda em meu coração... Preconceito? Sempre acreditei que eu não tinha esse sentimento... Mas ao sentir esse vazio na alma ao olhar para os nossos adolescentes do século 21, percebo que ele existe dentro de mim... Eu não gosto desse tipo de música, acho um puta saco! Ruim mesmo! Para mim é simplesmente música de corno exibido! Sorte que esse tipo de dor dá dinheiro para os compositores e cantores dessas canções... Ou sou muito preconceituosa ou a velhice chegou em minha vida e eu, justamente eu, estou agindo exatamente como os meus pais que odiavam meu som rock´n roll... Será? E por mais batido que seja ainda continuaremos sendo iguais aos nossos pais???

sexta-feira, 20 de março de 2009

Os olhos são os mistérios da minha vida...
A boca, o encontro do meu desejo
O coração, a batida dos meus passos
A pele, o suave caminhar da minha alma
O corpo, o encontro do meu eu...

sexta-feira, 13 de março de 2009

A procura da batida perfeita, aquela que não é a do D2

Andando, fumando, conversando, trabalhando, bebendo, comendo, cheirando, amando, odiando, sonhando, viajando, casando, sonhando... Sonhando com o tempo que ainda chegará e verificando o tempo que já ficou perdido nas poeiras da estrada. Quanta bagagem desnecessária levou com ela durante essa viagem. Pára (e continuará acentuando o pára para justamente diferenciá-lo) e vê em seu bolso um pequeno bilhete. Tu és responsável por aquilo que cativas! Desgraça de Pequeno Príncipe que nunca me deixa de lado. Bradou desabafando com seus próprios olhos. Cativou muitos durante esse tempo? Não sabe. Só sabe que esse personagem a persegue desde garota. Pequena garota que encantava-se com Platão e Sócrates e lia o livro das aventuras desse principezinho para entender os motivos do bocejar ou não em uma sala de aula. E o cara que para sempre ela amaria é apresentado à ela. Não, não seria aquele pelo qual seu coração pararia por instantes no ar, mas aquele cara qeu através de seus escritos mudou sua vida: o Nelson. o Rodrigues! E que hoje anda tão distante de sua vida e de suas viagens filosóficas, sociológicas e literárias...Outros chegaram à ela, mas nenhum com o mesmo ardor. Típico acontecimento rodriguiano... Olha para esse longe pulsar de sonhos e descobre-se sonhando com algo tão incerto e ao mesmo tempo tão certo que tem vontade de deixar-se levar. Levar-se pelas batidas musicais de uma música de batidas ainda desconhecidas, não ao som da batida perfeita. POrque perfeito é o que foi e imperfeito é o que ainda não se realizou. Viva essa imperfeição. Exclamou. Sorriu. Saiu...

quarta-feira, 11 de março de 2009

O pulsa ainda pulsa... Assim diria Arnaldo em uma de suas muitas canções poéticas... Ele pulsar é sinal que a vida corre dentro das minhas veias... Mas o que circula nelas? Medo? Sonho? desejo oculto de não saber o que vem por aí? Sentimento da alma, doideira do espírito e vazio no coração, porém o pulso ainda pulsa... e pulsando a vida vai transcorrendo sem se perceber o quanto ela vive! O quanto ela pulsa o quanto ela é real... Pulsa, mas não vive... pulsa mas não sonha... pulsa mas não deseja... Desejo de quê? Fome de quê? O pulso ainda pulsa!

terça-feira, 10 de março de 2009

Desordem da alma

Ao abrir os olhos ela percebeu que algo estava diferente em sua cama e aquela estranheza estendia-se aos seus lençóis, fronhas e travesseiros. Verdadeiramente algo estranho pairava naquele quarto da avenida principal de sua estranha cidade de São Paulo. Será que a cama encontrou-se com a mais louca estranheza da cidade? Bobagem, deixa pra lá... Olhou-se no espelho, como realizava costumeiramente antes de despir-se para entrar no banho. Olhos, boca, nariz, respiração, a mesma sensação anterior... Que desgraça era aquela agora? Isso não era momento e muito menos hora de acontecer um negócio assim... O banho! Despiu-se rapidamente, diferente do habitual ritual que mantinha todas as manhãs... E ela era uma moça que respeitava certos rituais e os cultuava, devido a importância desses atos para a... Não sabia explicar... Talvez esse e outros tantos hábitos fossem por ela conservados, para que nunca se esquecesse do que é padrão. Da ordem. Do natural andar de cada elemento do mundo, isso sendo os animais ou os seres humanos... O banho! Tentou ser rápida, como de costume, mas tudo andava conforme o refrão de uma canção do Moska "não quero a ordem natural das coisas. não quero mais a ordem..." . O sabonete e a água resolveram namorar durante o banho e mais ainda, o corpo dela era o local para que os enamorados ficassem cada vez mais apaixonados. O banho! Terminou com a alegria dos amantes e novamente a sua imagem refletiu-se no espelho! Maldita hora! Tenebrosa hora! Que olhos são esses? Eles não tinham mais a certeza do dia anterior... Da noite anterior, do momento anterior aos olhos dele... Dele... Só ele... Apenas ele...A culpa pela desordem do tempo seria dele? O coração estremeceu, as pernas tremeram e o suspiro deu-lhe um beijo em seus braços... Como não seria isso?
Sentou-se a cama, nela deitou-se e como há tempos não fazia, gargalhou... A sua felicidade não inundava só o seu quarto, mas todo o prédio. até mesmo a dona do cão mais bravo do mundo pôde sentir o estremecer daquela apaixonada e estranha gargalhada...Perdi! Foi o que pensou! Perdi o meu eu para encontrar o nosso. Os olhos dele eram o céu noturno em seu dia... quantos mistérios envolvem aquele que fez dela uma desordem e estranheza total... Não se sabe... E vestiu-se com a mais louca e estranha emoção. Espelho. Sorriu, lembrando da pergunta de sua aluna: como se sabe quando se ama?
Os olhos! Aqueles olhos!

segunda-feira, 9 de março de 2009


"Pouco me importa.Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa."
Alberto Caeiro
"Eu sempre sonho que alguma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera."

Adélia Prado

domingo, 8 de março de 2009

Historinha para... Sei lá!

Acorda o jovem e inconsequente Luiz Cláudio, no meio da manhã, faz seu café, acende seu cigarro e olha os resquícios da noite anterior no vazio da sala... o sofá com almofadas e peças de roupas, o tapete molhado por um líquido que ele nunca imaginara existir, o aparelho de som cheio de latinhas de cerveja... As cervejas! Se fossem só elas o seu problema! Onde eu coloquei meus chinelos? Indaga-se, pois pode ficar com algum resfriado... Corpo quente e chão frio... Terrível e temida combinação... A famigerada explicação de sua mãe que ainda ecoa - e ele nem se dá conta - em toda a sua alma, ou o pouco que ainda resta dela... A televisão estranha, um pouco torta e com a imagem distorcida olha fixamente em seus olhos cheios de interrogações... Que noite! Talvez a sala e o seu coração estabeleçam uma enorme sintonia. Sintonizam-se na frequencia como são acionados e na incerteza de como eles chegaram aquele ponto.
Maria Aparecida já está em sua salinha, arrumada e cheirosa, desde às 7h33minutos daquela estação da primavera. Anda de um lado para o outro, ajeita seus papéis, escreve em sua agenda a lista de tarefas (domésticas e pessoais) que ainda terá que cumprir... Como pude deixar isso passar em minha vida? Que furacão. Experimenta mais um gole de seu pavoroso e assombrado café, que a todo momento lhe traz a cabeça flashes de cervejas, danças e música... Como acordei? João Antônio acorda Maria. É hora de travarem a peleja de seus oficios. Ela odeia vê-lo com aquela expressão de... Mas hoje isso não anda fazendo muita diferença. Ela o olha e ele é simplesmente um pobre coitado que acredita que ali é a sua felicidade. Sei que você está bem organizada, Maria, aliás organização e responsabilidade são suas maiores qualidades...
Aquilo sempre fora um elogio durante toda a sua vida, mas dessa vez acertou em cheio o seu coração... Desde quando essas palavras tornaram-se qualidades? A imagem de Luiz Cláudio paira sobre sua cabeça e acentua em sua coração. É na bagunça e desordem de encontros como aquele que ela precisa viver, para poder ser a Maria Aparecida. Luiz, lembra de Maria... De onde surgiu essa mulher? Que inveja... Seu coração acelerava ao lembrar do cheiro, da boca e da voz de Maria. A vida dela era aquilo que naquele momento a sua sala precisava ter. A vontade de tê-la por ali, talvez trouxesse ao lugar um pouco de responsabilidade! Não posso passar minha vida vivendo assim... As cervejas! Quanta cerveja... no lugar das cervejas, se Maria aqui estivesse, talvez vasinhos de flor...
Não suporto mais o peso de ser assim... Sair do eixo, do lugar, sonhar, viajar, curtir. Deixei tanta coisa passar. É a trilha sonora do coração e alma da Maria. João está tão empolgado naquela peleja que ela chega até a gargalhar. Todas a encaram. Maria gargalhar? Ela manda todos eles para um lugar famosíssimo, que a sala acreditava que ela nem ao menos soubesse que existia... E sai. Sai à procura de sua vida e de seu coração...
Luiz, repentinamente começa a arrumar sua sala vazia. Quer mudá-la, ordená-la e preenche-la de Maria.
Mas como muitos poetas já escreveram o amor é meio torto, meio fora de hora... Maria e Luiz, dois corações, separados por grandes ilusões...

Quando?

quando isso vai parar?
quando a Terra vai se soltar?
quando o sol deixará de brilhar?
quando a chuva deixará de molhar?
quando o frio deixará de esfriar?
quando a música deixará de tocar?
quando não teremos mais o luar?
quando eu deixar de amar...